23/05/2008

Morar "verdim”

Às vezes parece que estamos retornando às origens, pois roupas, embalagens, comida, tudo parece ser cada vez mais orgânico e ecologicamente correto. Talvez um resgate do tempo no qual vivíamos mais próximo da natureza.

É curioso vermos que atualmente a indústria têxtil se preocupa em criar roupas com algodão ‘orgânico’ quando há algumas décadas todas as calcinhas eram de algodão puro. Os frangos que hoje são vendidos congelados antes eram abatidos na hora e ingeridos poucas horas depois...e ninguém pensava em fazê-los crescer à base de hormônio. Assim como não existiam certificações ou selos para atestar que o que a gente comia, bebia, vestia ou usava não prejudicava o meio ambiente.

Quando a civilização está indo muito para um lado, parece que surge um movimento tipo o “ola” coreografado pelas torcidas nos estádios durante as competições esportivas, para fazer a bússola apontar na direção contrária. Por isso, a irresponsabilidade da era industrial em relação à natureza fez com que surgissem os ambientalistas e uma legião de pessoas preocupadas com a sustentabilidade do planeta.

Uma das preocupações do momento é a Construção Sustentável. Responsável por 30% de geração de lixo, 20% do consumo de água e 35% de energia, a construção civil é a atividade produtiva que mais impacta o meio ambiente. O I Seminário Construindo o Desenvolvimento Limpo, realizado pelo Crea-RJ e o Inceden, no Rio de Janeiro neste mês de maio,durante a “Brasil Eco Show 2008”, trouxe de São Paulo o Engº Marcelo Takaoka, do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o CBCS, para falar sobre este tema para a platéia carioca.

Para ilustrar como as pessoas já começam a demonstrar algum tipo de interesse pelo assunto, ele citou o caso de uma construtora que, ao verificar que os compradores das unidades de um determinado prédio gostariam de algumas modificações em termos de sustentabilidade na construção, decidiu realizar estas modificações, mesmo depois da obra já planejada e orçada, o que implicou em custos extras. Esta atitude foi questionada pelos acionistas da empresa, mas a construtora conseguiu mostrar a eles o retorno que esta decisão teria no longo prazo.

Segundo Marcelo, tem gente que acha que o fato da madeira certificada ter um custo 20% maior do que a não-certificada significa que o custo da construção de um imóvel também vai aumentar na mesma proporção. “Isto é um engano - diz ele - pois este custo terá um impacto de apenas 5% no orçamento total da obra”. Ou seja, uma construção sustentável é apenas 5% mais cara do que as outras. Em compensação, ela registra uma economia de energia e água da ordem de 30 a 40 por cento, o que torna a taxa condominial bem mais barata. “E se o mercado souber comunicar bem o conceito de Construção Sustentável – acrescenta Marcelo - a valorização de um imóvel deste tipo pode chegar a 10 por cento em relação aos demais”.

Dessa forma percebe-se que uma nova forma de moradia ou de construir é uma questão de mudança cultural e de conceitos. “O grande pulo do gato da Construção Civil – continua Marcelo - é a interação com outros atores, que proporcionem condições das informações circularem. Por exemplo: se desejamos comunicar bem esse conceito é necessário que a mídia, em todas as suas diversas formas, seja uma parceira; já se a idéia é gerar menos poluição torna-se imperioso melhorar as condições de transporte para que possamos deixar o carro em casa; e se queremos que mais pessoas trabalhem em home offices - e, conseqüentemente, circulemo menos em seus carros - é necessário pensar em um estilo de construção que possibilite a criação destes home offices. Ou seja, por ai vamos interagindo com os setores de telecomunicações, transporte, arquitetura, engenharia etc.”

Falamos, no início do texto, sobre as certificações e selos existentes hoje em áreas que pretendem agir com responsabilidade social. Na área de Construção Sustentável, a certificação Acqua (Alta Qualidade Ambiental) é a novidade mais recente: ela se diferencia por ser uma certificação adaptada à realidade brasileira e por trabalhar com auditorias além de documentos.

O Leed (Liderança em Energia e Desenho Ambiental) é a certificação mais conhecida, e que atesta se uma construção é sustentável (um green building). Ela é concedida após o término da obra, levando, em geral, dois anos para ser obtida. Segundo Marcelo Takaoka, “é importante entender que o enfoque do Leed é tornar a obra menos impactante para o meio ambiente e não atender a todas as normas para sua obtenção.

No seminário também estava sendo realizada uma feira de produtos sustentáveis. Com poucos estandes, apenas dois expositores chamaram a nossa atenção:

O Prove (Programa de Reaproveitamento de Óleo vegetal do Estado do RJ) http://www.itcp.coppe.ufrj.br/ , uma rede formada por cooperativas de coletores de óleo de cozinha que transforma este resíduo em biodiesel, e


A Gaia, uma casa alternativa feita com um sistema construtivo pré-moldado de bambu, com as seguintes características: 60% dos blocos de construção são feitos de raspa de pneu; possui um gradiente de temperatura interna/externa de apenas 9,2 graus, barateia o custo da construção em 40% e consegue ser fabricada em apenas 8 dias ao invés dos dois meses de uma construção-padrão.


O conceito de Construção Sustentável se aplica também aos imóveis já construídos pelo padrão normal, o que torna o tema interessante para todo e qualquer cidadão que queira viver de uma maneira ecologicamente correta. Ou seja, vale a pena se informar sobre o assunto. No mínimo, para tomar conhecimento de como se pode resgatar hoje em dia o mesmo modo de viver dos nossos sábios avós.


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