06/06/2008

E POR FALAR EM RESPONSABILIDADE...

Dois recordes e um silêncio

Eduardo R. Gomes*

Os meio de comunicação têm repetidamente mostrado nos seus noticiários dois recordes que são próximos, sem, contudo, explorar muito as relações entre eles: os recordes de produção da indústria automobilística e os de congestionamento de São Paulo e de outras grandes cidades. Além de ressaltar o lado positivo do primeiro recorde para a economia, o noticiário tem basicamente explorado, no caso dos congestionamentos, os impactos negativos que eles provocam - e o que o governo pode fazer para solucionar estes problemas.

Os dois recordes, entretanto, podem ser mais aproximados e uma coisa que os conecta é o silêncio da automobilística sobre o segundo recorde, o dos congestionamentos. Não que os congestionamentos sejam causados pelos recordes de produção de veículos, mas eles têm relação direta com a utilização, pelo consumidor, desses automóveis - e mesmo com o tipo de veículo que as montadoras têm produzido.

Sobre este último aspecto, por exemplo, não se ouve uma única palavra da parte dos fabricantes acerca de carros mais econômicos, menos poluidores e mais seguros (como existem). Por outro lado, sobre o uso dos veículos, creio que seria mais que natural, ainda mais com a preocupação das empresas no Brasil de hoje em serem "socialmente responsáveis", que a indústria se colocasse como um interlocutor legítimo no encaminhamento de soluções para os congestionamentos, assim como para outros problemas que têm um impacto direto no seu produto. (Inclusive porque o setor corre o risco de seus anúncios com carros se movimentando livremente pelas ruas se tornarem pura ficção.)

E o que poderiam fazer os fabricantes, além de melhorar a qualidade dos produtos que oferecem, aliás, sem incluir isto como acessórios dos modelosde luxo, como fazem há anos? Creio que podem, no mínimo, se manifestar no debate público sobre os problemas do sistema de transportes do país, opinando não só sobre os congestionamentos e as alternativas para o trânsito nas grandes cidades, mas também sobre o destino das taxas e impostos que incidem sobre aos veículos, sobre os modelos de privatização das rodovias, entre outras questões. Talvez até devam fazer isso porque uma solução duradoura dos problemas de transporte no país depende do envolvimento das montadoras, digamos, como indústria e como um membro de nossa sociedade.

Este silêncio fica ainda mais surpreendente quando empresas de outros ramos tomam uma posição sobre o assunto, como pode ser visto na instalação de bicicletários nas estações de metrô do Rio de Janeiro pela Sul América Seguros. Claro que ninguém imagina que isto irá resolver os problemas do trânsito da metrópole carioca, mas tal iniciativa - mais que louvável, diga-se de passagem - mostra que há vários espaços para que as empresas (automobilísticas, inclusive) mostrem uma voz colaborativa em questões que afetam a sociedade em geral (como os congestionamentos).

* Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago, Professor deResponsabilidade Social do MSG/LATEC, UFF - email: gomeduar@gmail.com


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