04/07/2008

E POR FALAR EM RESPONSABILIDADE...

Transparência, o novo capítulo da Responsabilidade Social?

Eduardo R. Gomes*

Mais que controversa como ferramenta de gestão, a “transparência” das empresas pode ser vista - e portanto melhor entendida – como mais um capítulo da Responsabilidade Social. Este é o tema deste artigo.


Depois de começarem a assumir voluntariamente algum tipo de “responsabilidade social” nos anos 60 - além dos requisitos legais que lhes eram exigidos - as empresas e organizações acabaram se envolvendo com outros compromissos sociais, como a preservação ambiental, a qualidade do produto ou serviço, salários justos, equidade de gênero e raça no trabalho, entre outros.

Tais mudanças foram uma reação das empresas às críticas que determinados grupos da sociedade faziam, então, ao envolvimento lucrativo das empresas com a expansão da Guerra do Vietnã; por uma série de desastres ambientais; por suas práticas discriminatórias de contratação de pessoal; por danos aos consumidores, entre outros problemas.

Neste movimento que se constituiu em uma “revolução dos consumidores”, notabilizou-se o advogado norte-americano Ralph Nader, que, em 1965, publicou o livro “Unsafe at any speed”, no qual criticava profundamente a indústria automobilística americana pelo grande número de pessoas mortas em acidentes, quando que já existiam equipamentos de segurança que não eram instalados nos carros a título de economia.

A questão da transparência das empresas – e de sua irmã gêmea, a acountability – também veio à tona em meio a uma série de problemas na “vida legal” das empresas, como corrupção e suborno nas relações das empresas com governos, divulgação intencional de informações distorcidas no mundo empresarial, auditorias fraudulentas, entre outras práticas.

Sobressaíram-se, no quadro mais recente de reconhecimento dessas deficiências na gestão das empresas, o anúncio público da Shell de que havia subornado representantes governamentais da Nigéria para levar a cabo seus interesses no começo dos anos 2000. Não menos importante foram as falências da Enron, WorldCom e outras empresas nos Estados Unidos, envolvendo auditorias consagradas como a Arthur Andersen, repercutindo negativamente no mercado de ações e na solidez de fundos de pensão.

Assim, com vistas a uma sustentável condução dos negócios, com visibilidade para o mercado e para a sociedade, incorporou-se o valor da transparência como um novo princípio norteador de uma postura socialmente responsável das empresas. Como os compromissos anteriores da Responsabilidade Social, trata-se de um valor a ser operacionalizado como instrumento de gestão, o que equivale a dizer que se trata de um desafio para a gestão e, conseqüentemente, para as ciências da gestão, mas, eventualmente, até mais que tudo isso.

Se a transparência é uma atividade fundada no diálogo com as partes interessadas, baseada em uma postura ética, a divulgação de informações significa, em última análise, que as partes envolvidas abram mão de seu poder, seja internamente às empresas, seja externamente destas em relação à sociedade. Para alguns autores, esse diálogo, para ser efetivo, não pode ser estabelecido por normas prévias das empresas, mas ele deve ser construído pelo input das empresas e das comunidades envolvidas. Ou seja, não é um dos problemas mais fáceis de ser equacionado pelas ciências da gestão, mas isto já é outra história.

* Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago, Professor de Responsabilidade Social do MSG/LATEC, UFF - email: gomeduar@gmail.com

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