03/04/2008

Mídia "espetaculosa"

Revistas alternativas, como a Carta Capital, vêm “comendo” o mercado da mídia impressa pelas beiradas.Enquanto isso, a antiga rainha do pedaço, a revista Veja, assiste, nos últimos anos, os seus pontos no ibope despencarem. Será que parte da população cansou da parcialidade da Veja? Sinais dos novos tempos? E a Globo, que desembolsa cada vez mais dindim para manter uma programação já existente, sem muitas novidades (no último Big Brother a emissora constatou que a fórmula começou a ficar desgastada e já pensa em mudanças significativas) ...o que pode se dizer dela? Que é mais um reinado que periga ruir? Não creio, mas é um indício de que, como diz aquele ditado, há algo de podre no reino da Dinamarca.

A mídia tradicional, muitas vezes, cheira a esgoto. Todas as mazelas do mundo viram manchetes de primeira página. Há pouco espaço nas redações para divulgar as boas notícias. Isso cansa. E pior: dá ao leitor e ao telespectador a falsa impressão de que o mundo, o país, a sua cidade não tem mais jeito.

Caso você tenha a assinatura de uma tv a cabo verá que o jornalismo internacional não é muito diferente. O americano, então, é de lascar. Experimente assistir à CNN, e depois de dez minutos aponte uma boa notícia que tenha ouvido neste canal. Conseguiu? Dificilmente.

Outro dia, folheando a revista Vida Simples, que eu adoro, me deparei com o desabado do colunista Caco de Paula, com o qual me identifiquei imediatamente:

Diz ele:

“As notícias da minha cidade às vezes mais assustam que informam. Na primeira página do jornal, no noticiário de rádio, nos programas de TV, "grandes assuntos" e pequenas misérias parecem reforçar a imagem de um mundo cheio de problemas sem solução. São tantas as notícias que acabam por se anular umas às outras, na montanha de fatos soterrada pela nova montanha que se acumula sobre a anterior e que também desaparecerá algumas horas depois.”

Logo adiante, ele completa:

“Assim, é uma felicidade quando um pequeno fato, aparentemente ingênuo e desimportante, resiste à avalanche de notícias do cotidiano e nos chega na forma de uma pequena grande idéia. Uma nota com apenas algumas linhas, publicada em Veja São Paulo, conta a história da arquiteta Adriana Irigoyen, síndica do edifício onde mora, que, ao organizar a coleta seletiva no prédio, notou que as pessoas jogam fora as orquídeas tão logo elas perdem a flor. Ela se juntou aos vizinhos e passou a recolher as plantas para colocá-las nas árvores da rua. As plantas, que iriam para o lixo tão logo perdessem as flores, agora são penduradas a 3 metros de altura nos troncos das árvores.”

Ponto para a Veja! Que é uma revista que, tirando as matérias sobre política e economia, oferece, às vezes, boas reportagens na área de comportamento e medicina.

Do clube do bem, ou seja, dos jornalistas que entenderam a importância da divulgação das notícias alvissareiras, consta a jornalista Amélia Gonzáles, do caderno Razão Social, do Globo, e o jornalista André Trigueiro, com o seu programa “Cidades & Soluções”, transmitido pela Globonews. São profissionais à frente do seu tempo, que batalham para mostrar ao público o outro lado do disco, o lado B, geralmente relegado a notinhas nos jornais e emissoras de tv.

Para terminar, gostaria de falar sobre a cobertura da epidemia de dengue que a imprensa tem feito no Rio de Janeiro. É nestas horas que, talvez, os jornalistas voltam a se lembrar da sua verdadeira missão, que é informar - e não deturpar a informação conforme a linha editorial do veículo. Com certeza vimos ótimos trabalhos no sentido de esclarecer a população. Mas não poderia deixar de comentar o tom alarmista e/ou sensacionalista com que alguns telejornais traduzem o fato. É de doer! Um amigo, cientista especializado no combate ao vetor do mosquito da dengue, usa a expressão “espetaculosa” para definir a cobertura destes últimos acontecimentos.

Se por um lado, a mídia presta um enorme serviço à população ao divulgar informações de esclarecimento, por outro corre o risco de levar as pessoas a um estado de pânico sem fundamento. Que a situação é grave todos nós sabemos. Mas...devagar com o andor que o santo é de barro!

Nunca esqueço de um chefe de reportagem com o qual eu trabalhei, em São Paulo, que durante um período difícil pelo qual a cidade estava passando, com quebra-quebras e incêndios em ônibus, nos pediu que procurássemos contrabalançar, nas pautas, os assuntos ruins com os bons, de forma que o telespectador não entrasse em desespero sem necessidade.

Foi um dos mais lúcidos profissionais com o qual eu já trabalhei.

E você? Conte pra gente que programas, revistas ou jornais você lê para saber da verdade dos fatos.

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